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A Cidades E As Multidões


A contraposição à pujança e ao otimismo burguês era dada pelos mais impressionantes símbolos exteriores do novo mundo  industrial : as cidades e multidões. A intensa migração e a explosão demográfica fizeram das grandes cidades - especialmente Londres e Paris, mas também Berlim, Viena e São Petersburgo , no continente europeu , e Chicago e Melbourne , no além-mar - espaços onde se concretizava o ritmo da transformação industrial. Esses locais tornaram-se a expressão maior da contradição que se desenvolvia , fazendo com que alguns observadores colocassem , de um lado, os "ricos-civilizados" e , de outro , os "pobres-selvagens". No centro das cidades , milhares de pessoas se deslocavam por um emaranhado de edifícios , percorrendo longo trajetos a pé ou nos recém-criados transportes coletivos. À multidão misturavam-se a nova pequena burguesia dos escritórios e lojas de departamento , funcionários públicos, trabalhadores urbanos e inválidos, de superpovoamento , insalubridade e proliferação dos cortiços. Junto ao centro da cidade, bairros miseráveis tinham péssimas condições de moradia e uma superpopulação marcada pelo desenraizamento - perda de costumes seculares causada pela migração. Nesse amontoado de moradias precárias, com uma só peça e poucos móveis e objetos , a ausência de serviços públicos básicos, como saneamento e abastecimento de água , aumentava ainda mais os riscos decorrentes da poluição do ar e das águas , provocando , por exemplo, o aparecimento de doenças respiratórias e intestinais. Contudo, não era à condição das moradias que a maioria das reivindicações operárias se dirigia. Segundo a historiadora Michelle Perrot, o operários preferiam a liberdade de morar no centro circular livremente pelo espaço público, mesmo tendo de viver em habitações precárias. Em tempos de instabilidade do mercado de trabalho, viver no centro poderia significar mais oportunidades de emprego que nas vilas operárias afastadas, ainda que estas oferecessem condições mais dignas. As principais reclamações nesses cortiços , expressas em manifestações geralmente lideradas pelas mulheres , diziam respeito ao valores dos aluguéis. Além do trabalho doméstico na manutenção da família , do transporte da água , da alimentação e da criação dos filhos, para complementar a renda familiar , as mulheres das classes populares urbanas dedicavam-se a outro serviços , Lavagem de roupas , pequenos comércios em bancas na rua , vendas de porta em porta e trabalhos ligados à entrega , faxina , cozinha e costura tornavam-nas agentes de uma economia informal , fundamental na manutenção dos lares. A tudo isso somava-se a administração do orçamento doméstico , que as deixava mais sensíveis ao problema do aumento do aluguel e do custo de vida em geral. Pontos  de água coletivos tornaram-se locais de sociabilidade , onde se discutiam diversos assuntos, como o planejamento de manifestações públicas , expressão política decisiva dessas mulheres . Ao contrário do que o ideal burguês  pregava , a princípio, o controle da circulação exterior , para elas, foi muito meno rígido. menos satisfeitos com a condição das moradias populares estavam os médicos sanitaristas .Escandalizados , esses reformadores sociais denunciavam as precárias condições de higiene e saneamento como prováveis focos de infecções . Algumas destas se alastraram e se tornaram epidemias, como as de febre tifoide e cólera. Assim, em campanha aberta , defendiam uma intervenção mais drástica  contra os cortiços e hábitos populares, que , ao seu ver, geravam outros grandes flagelos sociais, como a tuberculose, o alcoolismo e a sífilis, Grandes avenidas e bulevares foram projetados e executados , assim como outras medidas: o aumento do valor dos aluguéis , o deslocamento de bairros considerados infectos ou, até mesmo , a demolição deles, com o intuito de forçar os pobres a procurar a=habitação em outros lugares , longe do centro da cidade. com os crescente medo da revolução popular, das violentas manifestações de rua e dos ativistas urbanos , principalmente após aura experiência da Comuna de Paris, as autoridade públicas passaram a ver a boa moradia como uma chave da paz social. Soluções filantrópicas , como a construção de vilas operárias mais bem projetadas, com creches , escolas , abastecimento de água e moradias amplas, foram tentadas nesse sentido. Vários autores apontam , em diversas partes da Europa , certa melhoria nas condições de vida dos operários no final do século XIX . Nesse momento , houve uma diferenciação entre a classe operária , com emprego formal e alguns direitos garantidos , e uma massa sujeita a situações de pobreza extrema , com emprego casual e superexploração do trabalho. Durante algum tempo , as multidões continuaram assustando . Elas obrigavam os detentores do poder político , em tempo de democracia , a reorganizar suas estratégias  na direção da política de massa.